terça-feira, 29 de novembro de 2011

Coragens [CFA]

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Fotografia: Andreas Stavrinides






Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem.
                                                                                         [Caio Fernando Abreu]






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domingo, 27 de novembro de 2011

Porque há mulheres-poesia, para homens-poeta

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Fotografia: Shlomi Nissim





 
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Porque há mulheres que são belas e poéticas, mas, algumas são belas, poéticas e inteligentes,
e as que são, a um só tempo, belas, poéticas e inteligentes, não vendem seu tempo aos vermes, não lambem os cães e nem se permitem aos crápulas da terra.
Estas são as mulheres que enxergam, sentem e pensam e, por isso mesmo, encontram filósofos e poetas;
E quando encontram homens assim, a vida se transforma em festa, o vinho é posto sobre a mesa e a música ecoa madrugada adentro com o talhe dançante de corpos que levitam...
(...)

Pietro Nardella-Dellova, " השילמית A Sciulamith, porque a beleza, poesia e inteligência encontram-se nela ", in A MORTE DO POETA NOS PENHASCOS E OUTROS MONÓLOGOS, Ed. Scortecci, 2009, p 275 (Livraria Cultura)
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Funções de cidadão

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"Já que colocam fotos de gente morta ou "quase" nos maços de cigarros, por que não colocar também de gente obesa em pacotes de batata frita; de animais torturados nos cosméticos; de acidentes de trânsito nas garrafas e latas de bebidas alcoólicas; de gente sem teto nas contas de água e luz; e de políticos corruptos nas guias de recolhimento de impostos?"
(De um tabagista discriminado!)




Recebi por e-mail e não resisiti compartilhar aqui, pois, não é que é boa a ideia?
Sem querer fazer apologia ao tabagismo, a ideia de isonomia, em questões que cabe a igualdade de tratamento, sempre me agradará. Quanto mais pelo fato de a proposta do cidadão irresignado chamar a atenção para a hipocrisia das campanhas públicas, fechando a lente em questões pontuais, de modo desvirtuar o foco das incontáveis mazelas sociais deflagradas pela omissão do Estado.
Para dizer o menos, o que se tem como resposta do Estado é a cifra zero em investimentos sérios e efetivamente comprometidos no combate às causas das moléstias da modernidade e da falta de ética.
Incumbe, assim, a cada um dos cidadãos a sua parte: conhecer, saber, interar-se acerca do pano de fundo de ações supostamente garantidoras de direitos, e devolver o conhecimento em forma de pressão popular - uma vez que esta a única via de modificação do status de omissão do Estado, que persiste há décadas.






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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Das secundárias e distorcidas ferramentas do Facebook






1. Queres bater-papo?
Me liga, que falamos por telefone ou marcamos um encontro.

2. Queres insistir na conversa, via digitação?
MSN - mas só com hora marcada, senão não existo por lá.

3. Queres me seguir?
Contrate um detetive, pois não tenho tempo pra twitter, sequer vocação para dizer cada passo que dou, feito celebridade frustrada.

4. Queres que te siga?
Publique algo novo, fundamentado e consistente, que quando eu tiver um tempo, mas quando eu tiver um tempo, certemante te visito, sem garantia de manifestação.

5. Queres que eu comente, por obrigação? Recomendo um analista.


Maria Janice, em dias de TPM e recreação -  desenhando sobre o bom senso no uso das redes sociais.


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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Leituras

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Quando digo duramente,

pretendo a leitura,

não da dureza da pedra,

mas do brilho de um diamante.



MJ, 11/11/11


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Amo o amor

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Fotografia: Yang Wang






Amo o amor
Amo os que amam 
genuinamente
e toda forma de amar
Amo o amor 
neste sentir não-dependente,
não-substituto 
da falta de amor 
por si próprio

Amo o amor 
nesta leveza 
contemplativa  da liberdade 
sua e do outro
do que gravita pelo mundo
e mesmo assim
em seu amor
se faz o mais presente
porque amor
é onipresença

Amo o amor que fala pelos olhos
reverbera no sorriso
que acolhe na pele
e nos ouvidos
morde com as palavras
no mordiscar de amor


Amo o amor que não carece de aprovação
pois que isto não é amor
é alguma coisa que obtura 
o buraco a ser tido 
como incapacidade 
de amar

Amo o amor que grita 
no silêncio de quem sabe 
o que seja amar
[E o que é saber amar?]
e por isto 
em urros contidos
silencio
- pois amar, 
já foi dito
transcende 
toda tentativa 

de explicar.








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sábado, 5 de novembro de 2011

Dos poemas: Poema em Linha Reta - Fernando Pessoa

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Poema em Linha Reta

                             
              Álvaro de Campos*

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


*Heterônimo de Fernando Pessoa


Na voz de Paulo de Autran, imperdível: 

http://www.youtube.com/watch?v=3dRchZ-vRAI&feature=player_embedded


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