quarta-feira, 25 de abril de 2012

Acerca das falas









              ...de Sherazades e sultões...

"Aqueles que se dedicam à sutil e deliciosa arte de fazer amor com a boca e o ouvido (estes órgãos sexuais que nunca vi mencionados nos tratados de educação sexual...) podem ter a esperança de que as madrugadas não terminarão com o vento que apaga a vela, mas com o sopro que a faz reacender-se." 
                                                                                                           (Rubem Alves)











domingo, 22 de abril de 2012

Dos outros: REFUGO - Jader Marques







Fotografia: Henri Cartier-Bresson





Por identitário, têm que estar aqui as reflexões de Jader Marques através das ponderações de Zygmunt Bauman, em que Jader contrapõe alguns ditos e não ditos da vida moderna, dizendo da cegueira ao 'refugo' - um lixo moral que se produz conjunto e antes mesmo do lixo material. 




REFUGO  ( Jader Marques*)
                                    

Todo o dia, toda hora, a cada minuto de nossas vidas modernas líquidas, estamos a consumir o novo e, conseqüentemente, a produzir mais e mais lixo, decorrente do descarte do que não mais tem utilidade. A vida moderna, baseada nesta contínua linha consumo/descarte, torna cada vez mais freqüente a inesperada e indesejável necessidade do convívio com o lixo, que se nos apresenta de maneira abrupta, desagradável, inoportuna.



O que fazer com aquilo que não tem serventia? O que fazer com aquilo que não tem utilidade? O que fazer com aquilo que não tem valor? O que fazer com aquilo que não está mais no mercado?



Zygmunt Bauman, no indispensável livro “Vidas Desperdiçadas”, destaca estas questões fundamentais. Não vou fazer aqui um relato da obra ou das impressões obtidas com a (fantástica) experiência da sua (re)leitura (terminada poucos dias antes deste texto). Para tanto, leiam o livro.

Fazendo isto, verão que lá consta um trecho com a seguinte escrita: “A história em que e com que crescemos não tem interesse no lixo. Segundo esta história, o que interessa é o produto, não o refugo. Dois tipos de caminhão deixam todo o dia o pátio da fábrica - um deles vai para os depósitos de mercadoria e para as lojas de departamentos, o outro, para os depósitos de lixo, A história com que crescemos nos treinou pra observarmos (contarmos, valorizarmos, cuidarmos) tão-somente o primeiro tipo de caminhão. No segundo só pensamos nas ocasiões (felizmente ainda não cotidianas) em que uma avalanche de dejetos desce pela montanha de refugos e quebra as cercas destinadas a proteger nossos quintais. (...) Removemos os dejetos da maneira mais radical e efetiva: tornando-os invisíveis, por não olhá-los, e inimagináveis, por não pensarmos neles. Eles só nos preocupam quando as defesas elementares da rotina se rompem e as precauções falham...”

Refugo é tudo aquilo que não serve; é o que foi deixado de lado, porque não foi usado, porque foi usado e perdeu a serventia, porque sobrou, enfim, é tudo que tenha o lixo por destino. E não somos educados para nos importarmos com o lixo. Sabemos que ele é inevitável, que é a sobra de tudo o que consumimos ou o que não conseguimos consumir, porque pereceu, porque envelheceu, porque saiu da moda. Não há luxo no lixo.

Tudo isto parece muito natural. Nada de extraordinário foi dito. Desprezamos o que não tem utilidade, em detrimento daquilo que se afigura importante para o momento. Fazemos isto com os alimentos, com as máquinas, com as roupas, com as informações...

Mas e o ser humano?

Será possível imaginarmos que haja seres humanos classificados como refugos, porque não têm serventia, porque perderam a utilidade, porque não produzem, porque geram despesas, porque se apresentam, tal como o lixo, desajeitados, fétidos, inúteis, amontoados nos lugares mais afastados, como sobra de comida, sobra de produção, como o excedente?

O preso é o lixo. A penitenciária é o depósito. O idoso é o lixo. O asilo é o depósito. O louco é o lixo. O manicômio é o depósito. O pobre é o lixo. O gueto é o depósito. Tantas vezes, passamos por estes seres humanos que viraram dejetos, vítimas da exclusão, da falta de espaço, da falta de sorte, da falta de assistência e, de passagem, não enxergamos o dejeto na sua condição de refugo. Não queremos ver lixo. Desviamos o olhar, para não ver o que de feio, de sujo, de repugnante tem o dejeto. O refugo não tem visibilidade, porque não é agradável olhá-lo.

O problema é que o vento às vezes muda de direção e o cheiro de podre invade a nossa sala de estar; o lixo derrama e invade a grama aparada do nosso quintal; a montanha de lixo entra na nossa vida.

A partir daí, somos levados a um pensamento individualista, não-solidário, de auto-preservação por negação do problema. O problema do lixo humano não é nosso, porque o lixo não pertence a alguém. Afinal, o lixo não tem dono. É o estado que deve recolher o lixo. O estado deve manter o lixo no lugar apropriado, preservando as pessoas limpas de toda a sujeita, longe das moscas, das larvas, de toda a podridão.

Para finalizar, Bauman: “Os problemas do refugo (humano) e da remoção do lixo (humano) pesam ainda mais fortemente sobre a moderna e consumista cultura da individualização. Eles saturam os setores mais importantes da vida social, tendem a dominar estratégias de vida e a revestir as atividades mais importantes da existência, estimulando-as a gerar seu próprio refugo sui generis: relacionamentos humanos natimortos, inadequados, inválidos ou inviáveis, nascidos com a marca do descarte iminente”.

Pense no lixo que você produz, que você consome e que você descarta!
JM



* Jader Marques  é advogado e professor (Porto Alegre, RS) 


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sábado, 21 de abril de 2012

Diálogos sobre o tempo







Foto da rede. Desconheço autoria.








Sou senhora do meu tempo, embora ele insista tentar me dominar.
Mas se me dizes, em segredo, que o tempo não existe, afirmando ser ele (o tempo) apenas o que dele (tempo) fazemos, te conto outro então, bem baixinho, que é pra ninguém escutar... 
Faz-se o dia, faz-se a noite, faz-se as horas marcadas em ponteiros do inventado relógio. Faz-se as dores nos joelhos, as pregas que se vão formando na cara, faz-se o dia que entoam um hino para lembrar da cifra da existência medida em números, e que, portanto, são minha rendição: há elementos circundantes que determinam existir algo que pode ser inominado, que pode ser inventado, mas que para mim tem nome, e prescinde a vontade. Tem nome de tempo - um tempo fazendo por mim. 
















sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sem limites





Fotografia: Elena Kalis






Para mergulhos mais profundos pela vida, o amor traz um escafandro inesgotável da matéria de que é feito. Encoraja a viagem e, de quebra, apresenta o terreno, sem limites, do enamoramento.




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Te devasso

Fotografia: Erol Oztoprak



Quando nascer predestinado às angústias poéticas, não terei como não perceber.
Já devassei tua alma, não vês?





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Perigoso pra mim








Fotografia: Henri Cartier Bresson




Homem com alma de poeta.  São os melhores, por inquietos, anárquicos frente à vida morna cotidiana que passa diante dos olhos, e sofrem, quando a circunstância impõe fingir não perceber.
Há tanta boniteza em suas deliciosas angústias, que é por ali que me perco. Perigosos.
...perigoso pra mim, mesmo, é não correr esta natureza de risco.






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