segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Visto e compreendido



Fotografia: Elena Kalis




Hibernava pela razão e circunstâncias. 
... há um amor que pulsa pela sede de amar até as entranhas. Tempo de despertar.






sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Amor de lavada






Amor de lavada é aquilo que provoca rupturas definitivas com um velho amor. Diante de um amor de lavada, o que um dia de fato foi, deixa de ser -embora tudo que tenha sido. Amor de lavada pode vir de um novo amor - por outra pessoa, por si. Melhor quando este precede àquele. Desconfio.







domingo, 1 de dezembro de 2013

Às vezes, tem escolha






"Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que a doença: é preciso entrar e sair dela."                                                 
                                 Mia Couto


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Idos de Novembro. Um lamento.



A República

Idos de Novembro. 15 de Novembro de 2013. Marco na história do STF.

Não por acaso esta data, o que só reforça meu lamento pela 'forma' deste STF que aí está. Que meu lamento não se confunda minimamente com o dever de penalizar quem pratique/praticou um delito. Meu lamento diz com o circo do poder - quando circo, leia-se, é capaz de causar dano incomparavelmente maior que prejuízo ao erário público, este, além do dano material, leva alguns poucos cidadãos para a cadeia, enquanto aquele pode ferir de morte os pilares da democracia. Sê atento, cidadão, antes de festejar.
 "Ninguém ocupa impunemente o poder"




IDOS DE MARÇO

Deves sempre temer as grandezas , oh alma
Se não consegues dominar as ambições
Que tenhas, cuida então com dúvida e prudência,
De as tolerar. E quanto mais adiante fores,
Mais cuidadosa, mais inquisitiva sê.
Quando, por fim ao ápice chegares,Cesar,
Assim logrando estatura de homem celebrado,
Acautela-te inda mais ao saíres à rua.
Vistoso potentado como seu cortejo;
Se por acaso da turba aproximar-se
Algum Artemidoro que traz uma carta
E te diz : "Lê sem mais demora,
São coisas capitais que te interessam muito."
Não deixes de parar; não deixes de adiar
Qualquer negócio ou discussão : não deixes de afastar
Aqueles que se vêm prosternar para saudar-te
(tu os veras mais tarde ); o Senado também
Espera: trata pois de conhecer depressa
As momentosas novas que traz Artemidoro.

    Konstantinos Kavafis (1863-1933)


[Comentário: Caio Julio Cesar (100-44 ac. ),militar e político,conquistou a Gália e o apreço da plebe na Republica Romana. Temendo a popularidade e as possíveis ambições do líder, os conservadores patrícios do senado, mataram-no a golpe de punhais no senado.
Artemidoro,filosofo grego, conforme Suetonio, tentou alertar Cesar.Como ensinou a Revolução Francesa : “ NINGUÉM ocupa impunemente o poder...”.]
Disponível em: http://pensarsocratico.blogspot.com.br/2012/10/kavafis.html

Título: A República
Autor: Manoel Lopes Rodrigues
Data: 1893
Óleo sobre tela











sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Liberdade de sentir Pessoa





A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade de dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou.
Por isso a morte enobrece, veste de galas desconhecidas o pobre corpo absurdo. É que ali está um liberto, embora o não quisesse ser. É que ali não está um escravo, embora ele chorando perdesse a servidão. Como um rei cuja maior pompa é o seu nome de rei, e que pode ser risível como homem, mas como rei é superior, assim o morto pode ser disforme, mas é superior, porque a morte o libertou.
Fecho, cansado, as portas das minhas janelas, excluo o mundo e um momento tenho a liberdade. Amanhã voltarei a ser escravo; porém agora, só, sem necessidade de ninguém, receoso apenas que alguma voz ou presença venha interromper-me, tenho a minha pequena liberdade, os meus momentos de excelsis.
Na cadeira, aonde me recosto, esqueço a vida que me oprime. Não me dói senão ter-me doído.

                                                                  [Fernando Pessoa]







segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Audições


Gustav Klimt

Esconder-se no porão, de vez em quando, é necessidade vital. Precisamos de silêncio e solidão, e, não, apenas os poetas. Senão, corremos o perigo de nos esvairmos em som, fúria e esterilidade. O campo para que a palavra se instale para o autor e para o leitor é o campo do silêncio e da audição.
                                                                                     Adélia Prado





sábado, 5 de outubro de 2013

Poeminha embrigado






Embora todas as razões
da razão
danaram-se elas todas em seu berço
de passado e de futuro
tudo porque eu te devorava
no instante desta espumante
tal e qual o tempo das bolhinhas
do fundo à borda do copo
as felicidades são estanques
e eu com isso, quando pra mim
felicidade mora no atemporal instante
de seus efeitos? [perpétuos]





quarta-feira, 11 de setembro de 2013

domingo, 8 de setembro de 2013

Saudades de mim



Fotografia: Elena Kalis




É urgente fazer o trabalho de conclusão de curso.
O resto, bem, não há restos, tudo tem sido urgente por aqui.
Mas... há o dezembro. Quando o dezembro chegar
quero estar mais perto de mim.





segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Fenômenos que exercem

Dois anos

registrando o ambiente sempre a partir mesmo ponto
Tudo  parecendo exatamente igual
e absolutamente diferente - embora a essência. 

A vida não comunica muito claramente sobre a força do tempo. É que, já confessou, não manda recado. Diz a que veio, desafiando com fenômenos que modificam estados, quietudes, formas, escolhas. Simplesmente apresenta, sem explicação.
...
[Dialogando com a razão, esse mesmo tempo se encarrega das respostas - especialmente mostrar porque para alguns o desafio tem proporções tsunâmicas.]


Fotografias: Manuel Cosentino






sábado, 31 de agosto de 2013

Vai um plasil aí?



As redes virtuais são mesmo fantásticas. Positiva e negativamente. Pelo meu gosto pessoal, o que mais apreciei nos últimos anos, através da blogosfera e depois pelas redes sociais, foi conhecer mais detidamente comportamentos, ideologias e fronteiras do trânsito de cada um (mídia e pessoas). Assistindo ao que vejo hoje, me sinto cada vez mais enojada da mídia brasileira. Antes disso, nojo e vergonha alheia pela mediocridade e preguiça de quem, leitor, reproduz qualquer coisa. Pior que isso, na maioria das vezes reproduzem mentiras e estorietas, sem buscar conhecer a realidade dos fatos ou todas as versões. Em tempos de tantas mídias de informação aqui na rede e, antes, em tempos do Dr. Google, é inaceitável o compartilhamento de tanta (des)informação deturpada ou deslavadamente mentirosas. Cada vez impressionada mais o aplauso da classe média (nós usuários disto aqui) para a quantidade de lixo publicado, com cunho meramente político-eleitoreiro. Pasmo diante da torpeza destes, pois só chancelam o continuísmo do modelo político que temos, de que tanto 'reclamam'. E noto, o óbvio e nem por isto menos interessante, que reclamam pela não-cassação de politico condenado, mas não conhecem a 'lei' (CF) que permitiu isto. Leis que são feitas por políticos que eles próprios elegeram. Elegem e não lembram quem. Se lembram, desconfio do porquê da lembrança. Não sabem pra quê serve o Congresso, a Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e, pior, nunca entraram em nenhuma destas suas casas, espaços do povo. Aliás, não sabem que político é mero representante do povo; tratam como divindade detentora de prerrogativas próprias do império dos céus; abaixam-se, fazem reverência a 'otoridades'. Nesse aspecto, aliás, não há meio termo para o brasileiro tacanho: subserviência ao extremo ou grosseria desmedida no trato, faltando com o respeito digno de qualquer pessoa. Não sabem se fazer respeitar, não sabem indicar soluções, participar, mas são mestres em acusações e julgamentos sem base mínima de fundamento. Cultura do técnico de futebol de mesa de bar. Doutores em passar a responsabilidade aos outros. Nada chamam pra si. A culpa é do governo, é do político, é do juiz, é do servidor público, é do vizinho. Não pensam quem os subsidia de desinformação, muito menos ponderam o porquê aceitam como verdade o que lhes cai no colo como verdade. Incansáveis, replicam na rede sobre a importação de mão-de-obra médica tida como uma aberração estratégica do governo, agarrados em discursos vergonhosos, desqualificando o povo de outras nações; não se dignam saber o que são politicas inclusivas, não conhecem a história do seu próprio país, quanto mais saber a história dos outros países. Não conhecem quem cursa medicina no Brasil, e jamais pensaram sobre o nexo entre a falta de médicos na selva, no sertão e o tipo de cidadão brasileiro que ingressa nas faculdades de medicina - seria otimismo demais esperar isto de um povo que foi doutrinado a não pensar, e pensa que pensa. Não conhecem, em suma, seu próprio papel. Seu protagonismo se resume a marionetes comandadas pelo ventríloquo político-eleitoreiro das mídias usuais. Tão ingênuos  - desconhecimento é causa! - que pensam desejar mudanças, quando na verdade se deixam conduzir ao bel prazer do que sempre foi e segue lhes sendo dado pelo império da mídia convencional, sua única fonte de informação. Fosse diferente, não leríamos tantas ideias miseráveis nas redes sociais. Reflexo do que se é/pensa.
Por outro lado, sendo condescendente com quem tem a chance de buscar conhecimento e não o faz, fico pensando, não se pode ser bom em tudo. Afinal, estudar dedicadamente os mercados de tecnologias, automóveis, grifes, viagens de turismo clichê e tudo o mais que a Forbes sinalize como meta de vida, não deixa espaço para saber do resto. Então replicam na rede e em discursos o que as mídias pensaram por si; porque não há tempo nem vontade de pensar, tão ocupados em encontrar os meios de atingir a Meca do poder que essencialmente lhes importa: o mercado de consumo desenfreado e preferencialmente somente para alguns. É que, sem o olhar da cobiça alheia, qual seria a graça? É feito aquela piada, sobreviver a um naufrágio com a gostosa hollywoodiana. Só os dois numa ilha deserta. Transam dias a fio, até que ele se cansa. Indagado por ela do porquê da rejeição, responde: qual a graça comer a mais gostosa das celebridades se não tenho pra quem contar?
A culpa é sempre dos outros, pelos outros e para os outros. Pensar/sentir por si, nada. Isso sim é soda... gasosa, coca-cola, pepsi ou guaraná. 








Do Zeca


Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo acenando tchau
Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro: este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(Se é assim quero sim, acho que vim pra te ver)

Bandeira, Zeca Baleiro 






sábado, 24 de agosto de 2013

A_gosto de Leminski







não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
            

                                Paulo Leminski  [24.08.1944 - 07.06.1989]


sábado, 17 de agosto de 2013

Contato invulgar


Fotografia: Carstem Witte



Ando sofrendo de um mal que percorre caminhos acima e abaixo da derme, epiderme. Sofrendo de contato.  Contato vai além do toque. Fala sobre o que já leram olhos e ouvidos. Vai além pois, no encadear solto, de mais saber do outro, contato comunica um tantíssimo de nós próprios. Diz dos movimentos desconhecidos, (in)capacidades, superação, surpresas. Dos significantes. Contato é uma espécie de estar em si, observando a voluntariosa mecânica que impulsiona o salto pra fora - da razão. É então, antes, um descontrole. Move para o contato com a forma vulgar de contato. Presença. Isso arrepia. Epidermia? 





quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De como se guarda



Picasso - Moon




Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
                            Antônio Cícero











sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Governabilidade(?) dos afetos





No que se tiver algum controle, a governabilidade dos afetos pressupõe parceria entre dois dispostos. Dispostos a governar os limites das ilimitadas vontades/possibilidades; sondar o que até então insondável a si e ao outro. Permitir-se, permitindo. Concessões mútuas, em que cláusulas pétreas do estatuto da relação sejam a amizade e o desejo de seguir [seguindo, acompanhando, crescendo, adiantando, atrasando, com pausa, sem pausa, no compasso da pressa de saber(-se), respeitar(-se), mais]. Não governo meu querer, as razões, critérios, governo apenas as horas que estão ao meu alcance. E ainda assim, uma governança de até ali. Muitas surpresas. 
Daí a graça.






segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Agudezas das bonitezas






Quando estou longe
Quero ficar perto
Quando estou perto
Quero ficar dentro
Quando estou dentro
Quero ficar mudo
Quando estou mudo
Quero dizer tudo


Ficar dentro. Morar e dar morada, em liberdade. 




sábado, 3 de agosto de 2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Gozar é fácil







Gozar é fácil. Qualquer um pode. Basta alguma imaginação e boa vontade. Mas gozo bom, gozo de verdade, é gozo poético, gozo digno. Aquele gozo de quem goza pelo gozo do outro, pela sua forma. Gozo poético é gozo de quem olha no olho e sente, enquanto come corpo, cabeça, olhar. Porque não se esgota em um meio estético, material. Come a alma, devora entranhas, mergulha em todos os meios líquidos, deslizando em cada pedaço. Gozo digno é gozo falado, gozo sentido, gozo gozado. Há muitas formas de dizer do gozo. Há gozo que se expressa, inclusive, em portoalegrês, em crioulo cabo-verdiano. Noutros signos, línguas, linguagens.






sábado, 27 de julho de 2013

Impressões








Conversei longamente com aquele olhar
disse tanto, foi além
bem mais que as (não)promessas
  
Morei uma eternidade naquele abraço
que se fosse pra ser nada
bastava-se na força impressa
[Se for pra doer
que doam apenas os músculos
exaustos]






sábado, 20 de julho de 2013

Da liberalidade









Já nem busco entender
esta força que nos pousa
coloca em, diante de
Me agasalho na irrecorribilidade dos tropeços do acaso
em seus mapas rasgados que ocultaram trechos, jogando
no trânsito movediço que remete/arremete
desde o cá e pra o lá, simplesmente então
aceito
E enquanto bebo da presença
deste presente que se apresenta
me agarro ao único lapso de liberalidade
que a vida confere: escolher
- se vou ou se fico
[sem medos]




sexta-feira, 5 de julho de 2013

Serenidades


Fotografia: Sans Haskins



seja o que quer que fosse
deu no que dá
aparentemente inconclusivo
esgota-se no que é


porque enquanto
teria sido
e tivesse dado
no que desse
fomos sendo o que
temos tido
sem ideia do que viesse
ocupação com o que
seremos

ser assim
porque
serenos








quinta-feira, 4 de julho de 2013

(Re)começos



Pablo Picasso, O Sonho

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só
metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

           [Miguel Torga]



domingo, 23 de junho de 2013

Dos símbolos






"E explicava: dormir com alguém é a intimidade maior. Dormir, isto que é íntimo. Um homem dorme nos braços da mulher e sua alma se transfere de vez. Nunca mais encontra suas interioridades."
                                      Mia Couto





Vocação x mercantilização. Faltam médicos?









À mim parece que a visão de que não falte médicos no Brasil é formulada a partir de interesses individuais de uma determinada classe social, desconsiderando todos os interesses em jogo e, especialmente, os principais motivos que impedem uma reflexão mais ampla como a causa impõe.

Diferente da bandeira levantada pelos futuros e antigos profissionais da medicina, de que não faltam médicos no território nacional, dados do Ministério da Saúde revelam que são 1,8 médicos por mil habitantes no Brasil. Na Argentina são 3,2 e em Portugal e Espanha 4 médicos por mil habitantes. Algo se extrai disso. Falta.

Falta, e muito, também, investimento do Estado no segmento da saúde. Todos concordam que é urgente uma formulação e reformulação da política de investimentos em saúde. Entretanto, concorde-se ou não, a polêmica importação de mão-de-obra pelo Estado, para sanear parcialmente o déficit de médicos em regiões distantes dos grandes centros, indica algum movimento do Estado nesta direção de formulações.

Quando os números traduzem uma realidade e o debate das ações do Estado são reduzidas ao plano de interesses individuais, sem considerar os demais interesses envolvidos, me ocorre uma outra falta que talvez devesse ser relevada, ainda que na esfera mais íntima apenas.

Diz com a falta de capacidade para distinguir a diferença entre vocação e mercantilização de uma carreira/atuação - mais ainda quando a área de atuação carregar interesse diretamente relacionado ao bem maior a ser legalmente perseguido e resguardado: a vida.

No formato de sociedade que se vive a maioria das carreiras são escolhidas, em primeira instância, para atender as necessidades patrimoniais individuais do profissional. Visam o resultado no lucro. Não seria diferente com a área médica, quanto mais pelo fato que estes profissionais são oriundos, com raras exceções, da classe média mais abastada. É a classe capaz de suportar o elevado custo do curso. Pelas regras da experiência, filhos da classe média tendem fazer escolhas para manter ou elevar o padrão social que já inseridos. Nada fora do contexto quanto às razões de escolha das profissões atuais, justificando, inclusive, a concentração de determinadas áreas nos grandes centros  (pela procura). É o caso da medicina.

No entanto, quando se pensa em atividades que lidam diretamente com o bem da vida, quer-se crer que haja um maior sopesamento entre vocação e resultado mercantil da  escolha. Vocação aparece claramente no desprendimento da visão unicamente mercantilista. Na superação da ultrapassada apologia à glamourização de uma carreira. No deslocamento dos grandes centros. Na medicina familiar. No atendimento no horário marcado. Na letra legível que se faz entender. No atendimento humanizado que raramente se vê [experimente-se acompanhar o atendimento de uma pessoa de baixa instrução, baixa renda, em locais públicos para conhecer os profissionais a que o povo é submetido].

Este é o médico que falta. O Estado enxergando através dos números, ainda que alternativamente, buscou solução para estreitar a lacuna criada a partir de uma nova realidade. 

Nessa circunstância, por mais que se pretenda um Estado paternal, não há por onde extrair  responsabilidade do [pai-]Estado nas escolhas individuais que desconsideram os novos tempos, as novas necessidades sociais. Não compete ao Estado esclarecer a diferença entre vocação e mercantilização de carreiras. O Estando não responde pela incapacidade individual de observar demandas coletivas, nem tão pouco poderá ser responsabilizado pela distração particular quanto aos modelos vencidos. 

O exercício de pensar para além do interesse individual amplia a capacidade de formar um juízo de valor mais próximo ao justo, sem esquecer que nem sempre o justo significará ser o melhor para quem julga.

Assim, investimentos em saúde é medida urgente, todos concordam. Mas até que se implementem, deslocando-se, então, da compreensão autorreferente, deveria-se dedicar o olhar sobre cidadãos que dependem do precário serviço público saúde e, pior que isto, para aqueles que sequer dispõem do serviço por viverem distantes dos grandes centros deste país-continental. 

Por tudo isso, a importação de mão-de-obra para a saúde sugere uma boa solução, em especial quando vem de um país referência internacional em várias das áreas da medicina, como reconhecidamente é o caso de Cuba.

Não se sabe se os cubanos seriam aqueles vocacionados que todo profissional da área da saúde devesse ser, mas a considerar o padrão social daquele país, espera-se que olhem os cidadãos com mais humanidade, pouco importando ser de baixa renda ou que vivam nos confins deste Brasil. Coisa que a nossa classe média, admita-se, tem se mostrado nada disposta.



Atualização. Dois meses depois deste post, com a chegada de médicos vindos de Cuba, importantíssima a leitura da matéria elucidativa que segue no link.

http://www.brasil247.com/pt/247/saudeebemestar/112703/O-que-voc%C3%AA-precisa-saber-sobre-m%C3%A9dicos-cubanos.htm


sábado, 15 de junho de 2013

Prenhez







É chocante em que posições,
com que escandalosa simplicidade
um intelecto emprenha o outro!
Tais posições nem o Kamasutra conhece (…)
                            Wislawa Szymborska 




terça-feira, 11 de junho de 2013

Mudanças





Há ciclos que encerramos por liberalidade.
Outros, são encerrados para nós.
Bem-vindo 2013 das
mudanças e das promessas
que se vão cumprindo.




segunda-feira, 10 de junho de 2013

Ítaca [Kaváfis]








Ítaca
Konstantinos Kaváfis


Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrará
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda a espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas.


                  --<>--


Pela voz do querido amigo Carlos Robalo:



C.P.Cavafy (with Sean Connery & Vangelis)




sábado, 8 de junho de 2013

Das volúpias




Salvador Dalí




Morro do gesto paralisado na carne e na superfície. Quando quero, quero olhos sobre a topografia de todas minhas feiuras, do que sou feita, do que me move. Meu verso. Meu anverso. Meus mistérios - e que estes não sejam todos descobertos. 
Se ainda assim for vista alguma beleza
então ressuscito
pela honestidade da volúpia.








terça-feira, 7 de maio de 2013

Das liberdades

www.facebook.com/EscritosMalditos


Só existe uma espécie de liberdade que se reveste de prisão,
e que me acorrenta inteira: a liberdade de amar.






sábado, 4 de maio de 2013

sábado, 20 de abril de 2013

Amáveis descomplicados




Há homens que não são homens-poetas, mas pura poesia na naturalidade e espontaneidade de ser e agir. Encantadoramente explícitos no seu desejo, sem que desconfiem, é o que faz a atormentada mulher-poeta desejar amá-los.  






sábado, 13 de abril de 2013

Um mar a partir da mesma rosa

...o encantamento retira medos,
dá coragem e, com sorte, acerta na sucessão de atitudes, encantando. 

     







terça-feira, 9 de abril de 2013

I'm crossin' you in style some day






Moon River

Moon river, wider than a mile
I'm crossin' you in style some day
Oh, dream maker, you heartbreaker
Wherever you're goin', I'm goin' your way
Two drifters, off to see the world
There's such a lot of world to see
We're after the same rainbow's end
Waitin' 'round the bend
My huckleberry friend
Moon River, and me

Two drifters, off to see the world
There's such a lot of world to see
We're after the same rainbow's end
Waitin' 'round the bend
My huckleberry friend
Moon River, and me