segunda-feira, 29 de julho de 2013

Gozar é fácil







Gozar é fácil. Qualquer um pode. Basta alguma imaginação e boa vontade. Mas gozo bom, gozo de verdade, é gozo poético, gozo digno. Aquele gozo de quem goza pelo gozo do outro, pela sua forma. Gozo poético é gozo de quem olha no olho e sente, enquanto come corpo, cabeça, olhar. Porque não se esgota em um meio estético, material. Come a alma, devora entranhas, mergulha em todos os meios líquidos, deslizando em cada pedaço. Gozo digno é gozo falado, gozo sentido, gozo gozado. Há muitas formas de dizer do gozo. Há gozo que se expressa, inclusive, em portoalegrês, em crioulo cabo-verdiano. Noutros signos, línguas, linguagens.






sábado, 27 de julho de 2013

Impressões








Conversei longamente com aquele olhar
disse tanto, foi além
bem mais que as (não)promessas
  
Morei uma eternidade naquele abraço
que se fosse pra ser nada
bastava-se na força impressa
[Se for pra doer
que doam apenas os músculos
exaustos]






sábado, 20 de julho de 2013

Da liberalidade









Já nem busco entender
esta força que nos pousa
coloca em, diante de
Me agasalho na irrecorribilidade dos tropeços do acaso
em seus mapas rasgados que ocultaram trechos, jogando
no trânsito movediço que remete/arremete
desde o cá e pra o lá, simplesmente então
aceito
E enquanto bebo da presença
deste presente que se apresenta
me agarro ao único lapso de liberalidade
que a vida confere: escolher
- se vou ou se fico
[sem medos]




sexta-feira, 5 de julho de 2013

Serenidades


Fotografia: Sans Haskins



seja o que quer que fosse
deu no que dá
aparentemente inconclusivo
esgota-se no que é


porque enquanto
teria sido
e tivesse dado
no que desse
fomos sendo o que
temos tido
sem ideia do que viesse
ocupação com o que
seremos

ser assim
porque
serenos








quinta-feira, 4 de julho de 2013

(Re)começos



Pablo Picasso, O Sonho

Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só
metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

           [Miguel Torga]