sábado, 31 de agosto de 2013

Vai um plasil aí?



As redes virtuais são mesmo fantásticas. Positiva e negativamente. Pelo meu gosto pessoal, o que mais apreciei nos últimos anos, através da blogosfera e depois pelas redes sociais, foi conhecer mais detidamente comportamentos, ideologias e fronteiras do trânsito de cada um (mídia e pessoas). Assistindo ao que vejo hoje, me sinto cada vez mais enojada da mídia brasileira. Antes disso, nojo e vergonha alheia pela mediocridade e preguiça de quem, leitor, reproduz qualquer coisa. Pior que isso, na maioria das vezes reproduzem mentiras e estorietas, sem buscar conhecer a realidade dos fatos ou todas as versões. Em tempos de tantas mídias de informação aqui na rede e, antes, em tempos do Dr. Google, é inaceitável o compartilhamento de tanta (des)informação deturpada ou deslavadamente mentirosas. Cada vez impressionada mais o aplauso da classe média (nós usuários disto aqui) para a quantidade de lixo publicado, com cunho meramente político-eleitoreiro. Pasmo diante da torpeza destes, pois só chancelam o continuísmo do modelo político que temos, de que tanto 'reclamam'. E noto, o óbvio e nem por isto menos interessante, que reclamam pela não-cassação de politico condenado, mas não conhecem a 'lei' (CF) que permitiu isto. Leis que são feitas por políticos que eles próprios elegeram. Elegem e não lembram quem. Se lembram, desconfio do porquê da lembrança. Não sabem pra quê serve o Congresso, a Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e, pior, nunca entraram em nenhuma destas suas casas, espaços do povo. Aliás, não sabem que político é mero representante do povo; tratam como divindade detentora de prerrogativas próprias do império dos céus; abaixam-se, fazem reverência a 'otoridades'. Nesse aspecto, aliás, não há meio termo para o brasileiro tacanho: subserviência ao extremo ou grosseria desmedida no trato, faltando com o respeito digno de qualquer pessoa. Não sabem se fazer respeitar, não sabem indicar soluções, participar, mas são mestres em acusações e julgamentos sem base mínima de fundamento. Cultura do técnico de futebol de mesa de bar. Doutores em passar a responsabilidade aos outros. Nada chamam pra si. A culpa é do governo, é do político, é do juiz, é do servidor público, é do vizinho. Não pensam quem os subsidia de desinformação, muito menos ponderam o porquê aceitam como verdade o que lhes cai no colo como verdade. Incansáveis, replicam na rede sobre a importação de mão-de-obra médica tida como uma aberração estratégica do governo, agarrados em discursos vergonhosos, desqualificando o povo de outras nações; não se dignam saber o que são politicas inclusivas, não conhecem a história do seu próprio país, quanto mais saber a história dos outros países. Não conhecem quem cursa medicina no Brasil, e jamais pensaram sobre o nexo entre a falta de médicos na selva, no sertão e o tipo de cidadão brasileiro que ingressa nas faculdades de medicina - seria otimismo demais esperar isto de um povo que foi doutrinado a não pensar, e pensa que pensa. Não conhecem, em suma, seu próprio papel. Seu protagonismo se resume a marionetes comandadas pelo ventríloquo político-eleitoreiro das mídias usuais. Tão ingênuos  - desconhecimento é causa! - que pensam desejar mudanças, quando na verdade se deixam conduzir ao bel prazer do que sempre foi e segue lhes sendo dado pelo império da mídia convencional, sua única fonte de informação. Fosse diferente, não leríamos tantas ideias miseráveis nas redes sociais. Reflexo do que se é/pensa.
Por outro lado, sendo condescendente com quem tem a chance de buscar conhecimento e não o faz, fico pensando, não se pode ser bom em tudo. Afinal, estudar dedicadamente os mercados de tecnologias, automóveis, grifes, viagens de turismo clichê e tudo o mais que a Forbes sinalize como meta de vida, não deixa espaço para saber do resto. Então replicam na rede e em discursos o que as mídias pensaram por si; porque não há tempo nem vontade de pensar, tão ocupados em encontrar os meios de atingir a Meca do poder que essencialmente lhes importa: o mercado de consumo desenfreado e preferencialmente somente para alguns. É que, sem o olhar da cobiça alheia, qual seria a graça? É feito aquela piada, sobreviver a um naufrágio com a gostosa hollywoodiana. Só os dois numa ilha deserta. Transam dias a fio, até que ele se cansa. Indagado por ela do porquê da rejeição, responde: qual a graça comer a mais gostosa das celebridades se não tenho pra quem contar?
A culpa é sempre dos outros, pelos outros e para os outros. Pensar/sentir por si, nada. Isso sim é soda... gasosa, coca-cola, pepsi ou guaraná. 








Do Zeca


Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo acenando tchau
Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro: este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal
Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(Se é assim quero sim, acho que vim pra te ver)

Bandeira, Zeca Baleiro 






sábado, 24 de agosto de 2013

A_gosto de Leminski







não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
            

                                Paulo Leminski  [24.08.1944 - 07.06.1989]


sábado, 17 de agosto de 2013

Contato invulgar


Fotografia: Carstem Witte



Ando sofrendo de um mal que percorre caminhos acima e abaixo da derme, epiderme. Sofrendo de contato.  Contato vai além do toque. Fala sobre o que já leram olhos e ouvidos. Vai além pois, no encadear solto, de mais saber do outro, contato comunica um tantíssimo de nós próprios. Diz dos movimentos desconhecidos, (in)capacidades, superação, surpresas. Dos significantes. Contato é uma espécie de estar em si, observando a voluntariosa mecânica que impulsiona o salto pra fora - da razão. É então, antes, um descontrole. Move para o contato com a forma vulgar de contato. Presença. Isso arrepia. Epidermia? 





quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De como se guarda



Picasso - Moon




Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
                            Antônio Cícero











sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Governabilidade(?) dos afetos





No que se tiver algum controle, a governabilidade dos afetos pressupõe parceria entre dois dispostos. Dispostos a governar os limites das ilimitadas vontades/possibilidades; sondar o que até então insondável a si e ao outro. Permitir-se, permitindo. Concessões mútuas, em que cláusulas pétreas do estatuto da relação sejam a amizade e o desejo de seguir [seguindo, acompanhando, crescendo, adiantando, atrasando, com pausa, sem pausa, no compasso da pressa de saber(-se), respeitar(-se), mais]. Não governo meu querer, as razões, critérios, governo apenas as horas que estão ao meu alcance. E ainda assim, uma governança de até ali. Muitas surpresas. 
Daí a graça.






segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Agudezas das bonitezas






Quando estou longe
Quero ficar perto
Quando estou perto
Quero ficar dentro
Quando estou dentro
Quero ficar mudo
Quando estou mudo
Quero dizer tudo


Ficar dentro. Morar e dar morada, em liberdade. 




sábado, 3 de agosto de 2013