quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Das boas loucuras



Jack Kerouac



“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que veem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os veem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.”
                Jack Kerouac 


sábado, 6 de dezembro de 2014

Para [não] amar uma outra vez


Fotografia: Keren Moskowitz


No não-amor ME TENHO - no controle[?] das causas, do tempo e espaço particulares. Uma espécie de compensação pela falta do amor romântico.
Amando ME PERCO - na causa, no tempo e espaço do outro. Uma espécie de troca entre os meus mims e os teus tis amorosos. Permuta com a falta que sinto de mim.

Um dia se descobre [ou deveria] que com ou sem, sempre falta. E se falta, qual das faltas melhor me sustenta, qual das faltas melhor se suporta [?]

Pressuposto: ter-se e perde-se, antes. Antes - e que seja cedo. Antes que seja tarde. Antes que nada mais provoque os sentidos. Antes que nada mais faça sentido.





sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Manoel de Barros





Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nasleituras não era a beleza das frases, mas a doençadelas.Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,esse gosto esquisito.Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.- Gostar de fazer defeitos na frase é muitosaudável, o Padre me disse.Ele fez um limpamento em meus receios.O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,pode muito que você carregue para o resto davida um certo gosto por nadas…E se riu.Você não é de bugre? – ele continuou.Que sim, eu respondi.Veja que bugre só pega por desvios, não anda emestradas -Pois é nos desvios que encontra as melhoressurpresas e os ariticuns maduros.Há que apenas saber errar bem o seu idioma.Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor deagramática.

[Manoel de Barros]

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Escolhas


Lua hoje


De todas as incertezas do mais tarde, só nos cabe o gozo do presente que se apresente. Todo o resto tende ser balela... ou bagatela das projeções.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Geografias






também sofro de perturas 
que não calam, não colam
insistem e dizem nada
...dupla sofreguidão






quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Eleições de prioridades



Quero mais - pra mim. Por ora, no entanto, toda minha visceralidade anda canalizada pra luta pelo bem comum. É que ocupa demais engrossar as fileiras que andam à esquerda de quem só conhece os caminhos do próprio umbigo.   






sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Humanidades do EdgeRank








Um rosto. De repente promovido ao grupo dos 9. Tudo bem que o responsável é um algoritmo, que tem vida própria e atua através de um conjunto de critérios lógicos de programação e ilógicos pra maioria de nós reles usuários. Mas apesar disso e de toda sofisticação dos robôs que determinam a nossa mirada, a minha tonteira humana me fez ver certa humanidade no EdgeRank. 





domingo, 5 de outubro de 2014

Domingo de sol







o sol a(s)cendeu
queimando a pele
ardendo a língua
sem filtro
sem anestésico
- espasmos
depois letargia









segunda-feira, 29 de setembro de 2014

As excrescências de um povo



Ano eleitoral. Debate entre os candidatos à presidência do país coroado com a fala de um dos candidatos, Levy Fidelix, em que diz que aparelho excretor não reproduz. Essa fala, além de revelar a profunda crise de representatividade política por que passa o país, diz um bocado sobre a nossa sociedade. Justifica a horda que espanca e mata homossexuais em nome de valores tacanhos, aliás amplamente incitados em rede nacional por igrejas neopentecostais. Cultivam apenas a pequenez do pensamento com o fim único de manter a população acrítica embretada na ideia maniqueísta de certo e errado, onde certo é pagar o dízimo, onde certo é, feito bactérias no lixo, reproduzir valores enviesados e mentidamente saídos das escrituras sagradas. Na carona propalam a hipócrita compreensão de que corpos se prestam pra nada mais que a reprodução humana. Um universo falso em que corpos seriam dissociados do desejo. O humano é desejante de toque, de carinho, de afeto, independentemente do sexo ou do gênero do outro humano que os entrega. Limitar as relações a dois à reprodução é negar o sentido de existência daqueles que não reproduzem. Permitir que essas ideias sejam livremente difundidas, e sequer rechaçadas durante o debate pelos demais candidatos, é assassinar o futuro de uma nação que se pretende igualitária. Viver estes tempos requer mais que coragem, impõe ação firme e combativa dos preconceitos por iniciativa de cada um que tenha mínima compreensão do que seja direito à cidadania. 








domingo, 28 de setembro de 2014

Sou sendo





...às vezes complexa, noutras perplexa, dislexa?, solta e 
também anexa a todas as outras de mim
com ou sem nexo,  apenas sou
o que já fui e sou
sendo construção e 
reinvenção de mim
nasço todo dia
deste emaranhado de 
causos 
e causas 
e cousas...

       MJ






quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Quando tirei tua roupa


Fotografia: Marc Hoppe

quando realmente prestei atenção
parei de escutar
então nada 
foi decência no que
eram gestos, olhos

boca, mãos
nem nos signos que
antes me prendiam
e escorriam soltos
nas entrelinhas 
dos bonitos discursos

[dizer passou a ser pouco
ainda que reconheça ser 
muito pros decentes que 
não te sabem tirar a roupa]

quando realmente prestei atenção
e parei de escutar
só li um homem 
nu de tudo aquilo
que me nego
carregar pro quarto
quando escancaro a porta
e quero entre_gue
abandonado
na minha devassidão

quando te vi
nu, irresistido 
fui honesta
na minha mais pura indecência 
que me faz deixar lá fora 
todas as desimportâncias que
movem o mundo
e que - quando sinto -
sinto muito
pouco se me dão

quando tirei tua roupa
nem sabia, antes 
já tinhas me posto
nua
ou, talvez, não



              MJ




quinta-feira, 24 de julho de 2014

Llosa e Neruda, diálogo



Egon  Schiele - Embrace, love




Mario Vargas Llosa: "Pablo Neruda; se um jovem poeta, de uns 15 anos, lhe pedisse um conselho relacionado com sua vocação, o que o senhor diria?"
Neruda responde: "Francamente, eu lhe diria que escrevesse, ou continuasse escrevendo versos para sua namorada, até não mais poder, até que se sinta satisfeito e pense que seu coração debulhou o fruto que tinha. Acredito que se deve começar a poesia pelo amor, possivelmente também por onde se deve terminá-la.
Naturalmente, entre esse começo e esse fim, cabe muito, cabe o mundo, a vida. Mas isso se aprende ao longo do caminho, e, só quando se aprendeu a vida e se sentiram todas as coisas, se pode cantar o que se vê."

"Dicionário amoroso da América Latina", de Mario Vargas Llosa.







quarta-feira, 25 de junho de 2014

Expectativas



...que não se atribua ao outro [qualquer outro] as expectativas que
   tecemos sós.



Imagem: Cifras 






sábado, 21 de junho de 2014

Wislawa Szymborska



Wislawa Szymborska



Me desculpe o acaso por chamá-lo necessidade.
Me desculpe a necessidade se ainda assim me engano.
Que a felicidade não se ofenda por tomá-la como minha.
Que os mortos me perdoem por luzirem fracamente na memória.
Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.
Me desculpe o amor antigo por sentir o novo como primeiro.
Me perdoem, guerras distantes, por trazer flores para casa.
Me perdoem, feridas abertas, por espetar o dedo.
Me desculpem os que clamam das profundezas pelo disco de minuetos.
Me desculpem a gente nas estações pelo sono das cinco da manhã.
Sinto muito, esperança açulada, se às vezes me rio.
Sinto muito, desertos, se não lhes levo uma colher de água.
E você, falcão, há anos o mesmo, na mesma gaiola,
fitando sem movimento sempre o mesmo ponto,
me absolva, mesmo se você for um pássaro empalhado.
Me desculpe a árvore cortada pelas quatro pernas da mesa.
Me desculpem as grandes perguntas pelas respostas pequenas.
Verdade, não me dê excessiva atenção.
Seriedade, me mostre magnanimidade.
Ature, segredo do ser, se eu puxo os fios das suas vestes.
Não me acuse, alma, por tê-la raramente.
Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos, por não saber ser cada um e cada uma.
Sei que, enquanto viver, nada me justifica
já que barro o caminho para mim mesma.
Não me julgues má, fala, por tomar emprestado palavras patéticas,
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves.
                                                            Wislawa Szymborska 



© obvious: http://lounge.obviousmag.org







quinta-feira, 19 de junho de 2014

A mulher que o homem NÃO quer






 "A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo que um homem NÃO quer".
Artigo publicado no Estadão de ontem (leia aqui). A partir da leitura comentei com amigos na rede social que somos de uma geração, especialmente a de nossos filhos, que foi doutrinada a não lavar cuecas por ser símbolo da subserviência feminina do passado. Sob o ponto de vista da sobrevivência, esqueceram-se as mães, entretanto, que, embora os símbolos, seria importante aprender a lavar calcinhas, banheiro, preparar a própria comida etc. Afinal, diplomas e carreira não são moeda de troca por uma mão-de-obra que já é escassa e tende a desaparecer.
Muitas são as perdas a partir da mudança de um paradigma comportamental social. Previsível isso quando se sabe que muitos são os ajustes que ocorrem durante qualquer processo evolutivo das sociedades. Ora avança, ora involui, até que atinja algum ponto de equilíbrio.

O artigo, na essência, diz dos efeitos do novo padrão de comportamento da mulher sobre os afetos. Diz da falta, do quanto sentem-se perdidos - elas e eles. Nesse ponto, sobre o processo por que passamos, penso que depender de um relacionamento, jamais. Por outro lado, viver com amor em parceria, tenho que aprimora e potencializa a beleza do que já fazemos bonito - por nós próprios.


sábado, 17 de maio de 2014

Queda dos véus da estupidez



O Grito - Edvard Munch, 1893


Ano de Copa e de eleições. Num tempo em que todos os dias nos esfregam na cara um arsenal de ódios e provas de involuções comportamentais, tudo me afeta. Complexo constatar tanta estupidez humana e tão próxima de cada um nós.










sábado, 8 de fevereiro de 2014

Descarte do que se fez tóxico


 
Fotografia: Arrigo Kurt


 
Trabalho, hábitos, amizades, amores. Descobri que estava velha quando a consciência veio à tona e anulou certas culpas. Desprezei todo o lixo tóxico que se disfarçava de alimento. Autoengano, eu era a comida. Agora escolho com lentes de aumento o mar por onde pesco.










quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Encapsularam minha libido?







Artigo publicado na revista Istoé noticia a chegada de quatro novos medicamentos para aumentar o prazer sexual feminino e introduz a matéria, anunciando que "uma em cada duas mulheres brasileiras sente que seu desejo sexual não é tão intenso quanto ela gostaria, não fica tão excitada quanto esperava ou enfrenta dificuldades para chegar ao orgasmo." 

Penso que o tema seja espinhoso sob o ponto de vista do real interesse dos laboratório$ para avançar neste mercado promissor da sexualidade, como revela a equação acima. Esse deveria ser nosso primeiro olhar sobre qualquer produto desenvolvido para o setor, isto pra não falar diretamente em desconfiança.


Reconhecendo que inegavelmente existam casos de distúrbios físicos que interfiram na libido feminina, seguirei achando que é em número ínfimo a quantidade de mulheres que tenham problemas nesta área decorrentes de alguma causa física. Até que provem o contrário, seguirei acreditando que contra a falta de conhecimento do próprio corpo + admiração do parceiro - dentro e fora da cama-, não inventarão pílulas mágicas capazes de fazer sentir e manter o desejo. 

A propósito disso,  aliás, vários foram os relatos que ouvi de mulheres casadas ou em relacionamentos longos, que deixaram de sentir prazer com seus parceiros, achando que era um problema físico seu. O curioso foi quando o desejo, de forma mágica, acordou de uma espécie de coma induzido pelo inconsciente, e se viu desperto, fogoso e voraz, perdido sob novos lençois num emaranhado de braços e pernas, entorpecido pelo cheiro e gosto de um outro homem. Desejo safado, esste. Foi aí que muitas delas deram adeus ao autoengano fundado na expectativa de um diagnóstico físico - que, aliás, jamais foi buscado, quanto mais devidamente sacramentado pela caneta de um profissional da saúde. 

É por nada não, mas isso não é apologia à traição - na acepção física-, nem desmerecer relacionamentos longos, iniciados na juventude. É apenas dizer da natureza humanamente humana - pois, hipocrisia negar que será feito um prêmio da loteria casar cedo, manter-se na mesma relação por anos a fio e sentir tesão por este mesmo homem 'ad eternum'. 

Leva-se muito tempo para conhecer o próprio corpo e a dinâmica de nossa sexualidade. Portanto, menos culpa e mais conhecimento sobre os elementos do 'start do desejo' antes de escolher com quem passar anos da vida. Sexo não é tudo numa relação, mas que sem ele é complicado e que a cumplicidade nesta seara faz mais felizes os pares, isto é inegável.


Link para a matéria da Istoé, publicado em 17.01.2014. 










quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

"Esquecer é lembrar em paz"


Edson Campos



Tudo que foi verdadeiramente importante não se esquece. A medida do tempo de lembrar em paz é um longe que pode ser perto, depende da devoção em compreender que se fez concluído, por aprendido. 


É preciso esquecer?
Por Luciana Chardelli
"E se pudéssemos apagar as recordações indesejáveis? Relacionamentos que não deram certo, frases cortantes, sonhos interrompidos. Um tiro certeiro e fatal nas lembranças que nos incomodam.
Se a possibilidade de apagar memórias dolentes é dar um tiro no passado que lateja, bem provável que também seja o enevoar do futuro. Sem lembranças perdemos as referências e junto a possibilidade de ser inteiro.
Por que dói quando lembramos daquilo que um dia amamos, mas que deixou de existir no presente? Dói porque no amar há uma necessidade do ato, do fato, do tempo presente e palpável. Lembrar é a vivência do que não vive mais.
Há uma irreversibilidade no tempo que por vezes não aceitamos. Esta impotência diante dos fatos, diante das amputações, dói. Dói porque somos insaciáveis em nossa sede de completude e domínio. Lembrar não basta. As lembranças são abstratas, invasivas, desobedientes, quase mal educadas. Lembrar pode ser o certificado do que não mais existe, mas ainda assim teima em existir. Há um mando impaciente e constante no sentimento da falta. Criamos uma duelo, bifurcamos os sentimentos. Não deixamos ir, não queremos que fiquem.
É preciso esquecer ou basta aprender a lembrar? Para esquecer o que dói é preciso antes lembrar de forma exaustiva, até que a lembrança se perca nas artérias das histórias, e as histórias comecem a ter falhas, e as falhas se transformem em histórias, e as histórias representem apenas histórias. Só é possível esquecer o que nos dói quando possível ser lembrado, então, percebe-se que não existe o esquecer, esquecer é apenas deixar de lembrar insistente e dolorosamente. Esquecer é lembrar em paz.

© obvious: http://lounge.obviousmag.org/luciana_chardelli/2013/12/e-preciso-esquecer.html#ixzz2pmELhd55